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Ferro, fogo e propósito: conheça a trajetória do artista e designer Rapha Preto

O designer e artista plástico Rapha Preto é movido a ferro, fogo e propósito: num galpão de 800 m2 na Região Leste paulistana, ele mantém uma mistura de ateliê e galeria, onde desenvolve esculturas de aço carbono e orienta uma equipe da qual participam jovens em situação de vulnerabilidade social e no espectro do autismo.

Muita gente me estendeu a mão e me ensinou quando eu estava no início da carreira. Usar a arte e o design como ferramentas de inclusão é uma forma de retribuir para o mundo”, diz.

Além das obras de metal, Rapha cria produtos nas mais diversas áreas, de mobiliário a roupa de cama, entre eles o banco Noah, lançado pela Breton, a poltrona Rok, parceria com o designer Estevão Toledo, e tapetes desenhados para a by Kamy.

Em entrevista para o blog, Rapha compartilha sua trajetória.

1. Qual é a sua primeira memória de design /arte e como isso afeta suas criações?

Não teve nenhuma peça de arte ou design que me chamou atenção. Minha mãe era decoradora e sempre gostei de vê-la trabalhar. Cresci no meio de uma fábrica vendo montagens e construções. E foi nesse lugar que comecei a projetar máquinas e aprimorar a estética desses equipamentos. Nessa época eu nem sabia que estava fazendo design.

E eu sempre fui muito criativo, sempre gostei de arte em todos os seus âmbitos. Estudei música, teatro e televisão. Fiz publicidade, gastronomia e muitas outras coisas relacionadas à criação. Então a arte entrou na minha vida como um estilo de vida e esse repertório aparece em tudo que eu faço. Essas vivências em design, arte e engenharia moldaram meu jeito de trabalhar de um modo muito peculiar que mistura arte, design, tecnologia, engenharia… Essa bagagem me formou um artista e designer que não se limita a nenhuma área do design: desenvolvo móveis, calçados, roupas, obras de arte de todas as formas, estou sempre aceitando novos desafios.

Banco Noah, design de Rapha Preto para Breton e escultura em aço corten | Foto via @rapha_preto

2. Você usa aço carbono em suas criações? Como foi a escolha do material e quais técnicas de fabricação são usadas?

Uso aço carbono, aço corten, madeira, cobre, latão e muitos outros materiais. Mas realmente, os principais materiais são o aço carbono e o aço corten. Estes foram os primeiros materiais com que tive contato. Trabalhei muitos anos na metalúrgica da minha família onde desenvolvia máquinas em aço carbono. Adquiri muita experiência com o aço.

A maior parte das minhas obras de arte são em aço, mas no design criamos em diversos materiais. O estúdio é bem amplo, sem limitação de materiais ou tipos de produto.

3. Qual peça de sua autoria é sua preferida e qual o motivo?

Difícil essa pergunta. Gosto de todos da mesma forma. Mas sempre que estou criando algo novo sinto um carinho maior. O trabalho já começa de uma forma diferente, porque a nossa bagagem fica maior a cada projeto, começa sempre de uma forma diferente, mais evoluída.

Fios, minha primeira escultura é muito importante, ela foi o começo de tudo. Já a mesa Iron foi minha primeira peça de design e com ela comecei a ficar conhecido.

A escultura Fios de Rapha Preto em duas versões | Foto: via

4. Quando você precisa encontrar inspiração, o que você faz?

Vou tomar banho (risos). Tenho ótimas ideias debaixo do chuveiro, desenho no vidro do box ou saio correndo para colocar alguma ideia no papel. Além disso, leio muito, estudo muito, gosto de meditar – o que deixa minha cabeça bem leve. Estou o tempo inteiro criando, observo muito as coisas que acontecem ao meu redor.. as coisas vão se formando. Sonho muito e acordo com muitas ideias. Acho que é dessa junção que vem minha inspiração.

5. Quais desafios você vivenciou em sua trajetória como designer e artista?

Tive muitos desafios no começo da carreira. Quando comecei a desenvolver meus primeiros trabalhos não tinha consciência de que estava fazendo design ou arte. Comecei como uma brincadeira, de repente eu estava na Casa Vogue, as pessoas estavam me ligando… Fui a uma exposição e as pessoas queriam tirar foto comigo. Eu não sabia o valor que isso tinha, não sabia nada. Estava lá de corpo e alma fazendo algo que eu amava.

Nesse início ganhei uma boa grana, mas não soube administrar o dinheiro. Minha esposa ficou grávida e eu prometi que até meu filho nascer eu teria um galpão com pessoas me ajudando e estaria ganhando melhor. Uma semana antes do meu filho nascer eu não tinha nada, estava morando aqui onde é meu galpão hoje. Hoje, o estúdio conta com uma equipe de mais de 15 pessoas e atualmente estou montando uma equipe com pessoas com transtorno do espectro autista.

Esse é meu propósito usar a arte e o design como ferramentas para ajudar pessoas. Nossa intenção neste momento é ajudar na inclusão de autistas no mercado. Comecei a carreira muito perdido, sem saber o que estava fazendo, sem propósito. Ao longo do tempo fui me encontrando. Passei muita dificuldade durante dois anos e meio, período em que estava montando o negócio. Hoje já estamos construindo um negócio sólido e com propósito.

A mesa Iron, primeira peça de design criada por Rapha Preto | Foto via

6. Você é artista e empreendedor num universo que a maioria dos criativos possuem dificuldade em conciliar as duas áreas. Como se deu a junção desses dois universos?

Muitos artistas ficam na sombra porque acabam não empreendendo. Tive essa dificuldade no começo e me dispus a empreender.

Muitas pessoas me ajudaram e eu me propus a aprender e a estudar. Também contei com a ajuda de um mentor. Quebrei a cara muitas vezes, errei muito, mas sempre levantando mais forte. Sempre gostei de empreender, sou um criativo que gostava de empreender. E percebi que precisava unir os mundos da criatividade e dos negócios. Estudei marketing, gestão de pessoas, financeiro, administração… Eu não precisava saber tudo, mas eu precisava entender. Com 23 anos eu dobrei o faturamento da empresa de mais de 80 anos da minha família. No estúdio tenho uma equipe competente que me ajuda em tudo e eu posso ficar mais livre para criar. Adotei uma gestão aberta, um modo de empreender peculiar e com propósito. Eu gosto de ajudar pessoas, seja no trabalho ou fora dele, então uso a arte e o design – as ferramentas que tenho hoje – para ajudar pessoas.

A luminária de piso Fios e a poltrona Fine | Foto via

7. Você tem algum conselho para quem está começando a carreira como designer / artista?

Quanto você está disposto? Não vai ser fácil. A não ser que você acerte na veia meio sem querer. Você vai precisar estudar, acordar cedo, trabalhar muitas horas. Ouça as pessoas, seja sincero, seja verdadeiro, não tenha medo de errar, tenha propósito. Faça porque você ama e não pelo dinheiro.

No começo eu trabalhava mais de 100 horas por semana, dormia dentro do estúdio. E isso me ajudou a evoluir. Muita gente acha que é sorte, mas as pessoas não sabem o quanto trabalhei e me dediquei para chegar até aqui.

Conheça o trabalho de Rapha Preto em raphapretostudio.com.br

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