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ARQUITETURA EM ESCALA REDUZIDA

Paula Bartorelli, paulistana da gema e Fabio Dias Mendes, de Araraquara, interior de São Paulo, se formaram em arquitetura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie em 2000. Amigos desde os tempos de faculdade, depois de 14 anos trabalhando em diversos escritórios de arquitetura, resolveram montar o próprio, a BM Estúdio. Que, conta Paula, não foi batizado com a palavra Estúdio por acaso: “Sempre tivemos a intenção de expandir nossas atividades, além da arquitetura”. E assim aconteceu: de lá para cá se desenvolveram no mundo do design e hoje, selecionados pela curadoria do Isola Design District, estão representados pela Espreguiçadeira Pano na antiga fábrica “The Stage Four”, na Semana de Design de Milão, na Itália.

 

Paula Bartorelli e Fabio Dias Mendes do BM Estúdio | Foto: Gustavo Otsuka

 

Na entrevista a seguir, Paula compartilha a trajetória dos sócios, fala do móvel escolhido para a exposição e, claro, da emoção de fazer parte de um evento de importância internacional. [Fabio já está em Milão, para acompanhar a mostra].

 

Quando vocês começaram a incluir o design no dia a dia do escritório? 

P: Na verdade, desde o primeiro projeto que fizemos, já incluímos uma peça de design. Na época, para uma agência de publicidade, criamos a estante Trinca, executada de ferro e madeira. Esse foi o móvel que nos levou para o mundo do design. Quando criamos, os amigos gostaram e começaram as encomendas. Depois surgiram outros projetos arquitetônicos onde o móvel se enquadrava e fomos, em cada um deles, aperfeiçoando o desenho, seus encaixes, seus módulos, sua execução. Até hoje vendemos esse produto.

 

Estante Trinca do BM Estúdio | Foto: Divulgação

 

Como é o trabalho em dupla? Vocês criam tudo juntos ou cada um fica responsável por uma parte do desenvolvimento do produto?

P: Costumo dizer que é um trabalho de revezamento, não a quatro mãos. A gente não fica juntos, grudados o tempo inteiro, quando está criando algo. Geralmente um de nós tem uma ideia, começa a desenvolvê-la e quando chega aquele momento em que “empaca” a criação [rsrsrs] – quando você não sabe para que lado ir -, o outro entra em ação e a troca entre nós começa a acontecer para, então, chegarmos a uma solução juntos.

 

Atualmente vocês se acham mais arquitetos ou mais designers? 

P: É difícil responder isso. Os dois ofícios caminham juntos, porém, como um projeto arquitetônico leva muito tempo entre seus primeiros traços e sua execução e uma peça de design tem um processo mais ágil, talvez estejamos mais designers atualmente. Mas apenas por essa rapidez intrínseca à atividade.

 

A espreguiçadeira Pano | Foto: Gustavo Otsuka

 

É evidente que a Espreguiçadeira Pano, que usa apenas vergalhão estrutural e tecido em sua composição, tem uma relação muito forte com elementos arquitetônicos. Isso é uma característica recorrente nos produtos que levam a assinatura da dupla, já que os dois são arquitetos?

P: Digamos que não seja uma característica obrigatória, deixamos a criação fluir. Mas, de certa forma, não conseguimos nos livrar da arquitetura. Ela acaba aparecendo nos móveis ou utensílios criados por nós ou na repetição de materiais empregados na arquitetura ou nos conceitos, como cheios e vazios, luz e sombra, volumetria, proporções que se relacionem com os ambientes. 

 

É a primeira vez que participam da Semana de Design de Milão ou de alguma outra mostra internacional? 

P: Sim. Já fomos finalistas de exposições nacionais, como o Prêmio Design Museu da Casa Brasileira e Prêmio Salão Design, mas nunca de algo internacional.

 

Vocês têm ideia da representatividade e da visibilidade que esta participação agrega à trajetória da BM Estúdio? 

Não. A notícia foi totalmente inesperada e, para te falar a verdade, a ficha ainda está caindo. Talvez não tenhamos ainda a verdadeira noção da grandeza dessa participação. Nunca achei que uma peça nossa pudesse ter essa expressão! E, óbvio, ficamos extremamente lisonjeados quando recebemos o convite da Elif Resitoglu, curadora e diretora criativa do Isola Design Group, a estarmos na instalação “The Stage Four” entre selecionados de todo o mundo. 

 

A espreguiçadeira Pano na instalação The Stage Four | Foto: Divulgação

 

A curadora do Isola Design Group, Elif Resitoglu, compara o conceito da instalação The Stage Four à quarta etapa do ciclo do sono. Ela lembra que este estágio de descanso é quando sonhamos e nossa imaginação não tem limites. E é justamente onde a curadora quer levar o visitante da exposição, para se purificar da realidade aceita e criar uma nova e própria. Como você enxerga esta reflexão e onde acha que a Espreguiçadeira Pano se encaixa nisso? 

P: Observando os outros expositores, percebi que todos temos em comum algo de inusitado e forte, como se não fosse facilmente revelado – assim como num sonho. A Pano, sem a capa de tecido que a envolve, é quase que um objeto indefinido, difícil mesmo de se compreender a função. Nada óbvia, sabe. Além disso, outra característica que notei no nosso produto e nos outros foi o caráter de experimentação. 

 

Sobre experimentação, porque a define assim? 

P: A Espreguiçadeira pano não foi, definitivamente, desenvolvida no papel. Sua criação foi iniciada com traços, mas ela foi quase que inteiramente concretizada na serralheria. 

Um dos desafios, para que se tornasse extremamente confortável, foi definir a altura exata que seriam as barras de encosto para as costas e para os pés. Além disso, a espessura do vergalhão era menor. O comprimento do tecido foi testado várias vezes, para que se tornasse funcional. O contrapeso para acomodar a almofada também exigiu testes, que se adaptassem a diferentes tipos de corpos. E até os ilhoses, para fixação da capa, foi pensado da maneira mais simples para facilitar a retirada para lavagem. 

 

A espreguiçadeira Pano | Foto: Gustavo Otsuka

 

O produto tem algumas variáveis na sua execução. Pode falar um pouco delas e qual a peça exata que o Isola Design District escolheu para a instalação?  

P: A estrutura é feita de vergalhão de ½ polegada com tratamento anticorrosivo e pintura eletrostática ou automotiva. A capa e a almofada, podem ser feitas em várias cores em tecidos para áreas internas (uma mistura de algodão reciclado e pet) ou para áreas externas. Eles escolheram estrutura com pintura automotiva azul e capa com tecido cinza médio para área interna.

 

Quais os planos do escritório a partir dessa participação na Semana de Design de Milão?

P: Nós nunca traçamos metas e corremos atrás delas. O que fazemos é ficarmos atentos às oportunidades. Mas gostaríamos que essa participação gerasse parcerias e vendas de produtos fora do Brasil. Aqui no país, nosso desejo é alavancar o nome do escritório e o nosso enquanto designers, conquistarmos um público maior, gerarmos novos projetos, aumentarmos a gama de produtos e conseguirmos, cada vez mais, aliarmos projetos arquitetônicos com peças de design.

 

O que você achou do trabalho da dupla? Deixe seu comentário abaixo.

Ficou com vontade de conhecer os projetos e outras peças de design desenvolvidos pelo BM Estúdio? Acesse bmestudio.com.br

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2 respostas

  1. trabalho excepcional, a genialidade vem da simplicidade do design, sua funcionalidade, sua beleza e elegancia.

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